A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo

Para a Associação Brasileira de Psiquiatria e para o CFM (2014), o suicídio pode ser definido como um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal. Acompanhando o Setembro Amarelo – mês de campanha contra o suicídio, a NEWS APMT traz entrevista com a médica e psicóloga Dra. Vera Vera Lucia Zaher-Rutherford.

DOUTORA, QUAL A IMPORTÂNCIA EM SE FALAR SOBRE SUICÍDIO?
O suicídio é um grande e complexo problema de saúde pública não só no Brasil como no mundo. Requer muita atenção e sua prevenção e controle não são necessariamente fáceis frente a dificuldade explícita de identificação dos sinais. É um fenômeno complexo que requer a atenção de vários profissionais como médicos, filósofos, psicólogos, teólogos, sociólogos e demais profissionais vinculados não só à saúde, como também os que se debruçam sobre as questões sociais, políticas e econômicas do mundo.

O Conselho Federal de Medicina assim como o de Psicologia estão empenhados em divulgar fortemente o problema do suicídio no Brasil, e reiteram a necessidade de se pensar neste fenômeno de maneira multifatorial, lembrando que 75% dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda (OMS, 2014), assim como  relacionadas também às relações de violência e opressão que se manifestam nos espaços laborais, sociais e familiares, na exploração econômica, na falta de acesso à educação, cultura e saúde.

É POSSÍVEL PREVENIR O SUICÍDIO?
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2014), é possível prevenir o suicídio, desde que, entre outras medidas, os profissionais de saúde, de todos os níveis de atenção, estejam aptos a reconhecerem os fatores de risco presentes, a fim de determinarem medidas para reduzir tal risco e evitar o suicídio. Não se trata apenas de ações individuais e isoladas, mas também da mudança das sociedades, em como os grupos sociais se formam e em torno de quais os valores, e a dinâmica daquela cultura se estabelece num certo tempo e espaço. Portanto, trata-se de fenômeno de grande impacto, de difícil prevenção e grande complexidade, mas que deixa esvair precoce e violentamente uma vida em grande sofrimento.

EXISTEM DADOS ESTATÍTISCOS SOBRE SUICÍDIO NO BRASIL?
Os dados mais recentes sobre o suicídio no Brasil e no mundo são alarmantes pois mostram um aumento importante e pouca resolutividade na sua prevenção. O sudeste asiático como Índia e China encabeçam em números absolutos e o Brasil fica em 8º lugar. Atualmente uma das maiores preocupações tem sido o suicídio de crianças e adolescentes, e nos últimos anos emerge também a preocupação deste fenômeno nas empresas.

O SUICÍDIO EM EMPRESAS É UM ASSUNTO BASTANTE RECENTE E DE POUCA DIVULGAÇÃO. O QUE A DOUTORA PODERIA FALAR SOBRE O PROBLEMA?
O suicídio no trabalho veio à tona em 2008, com vários casos ocorridos na França, mas está presente em vários países. No Brasil esta casuística não é conhecida, podendo aparecer alguns casos isolados, mas nem por isto é assunto de pouca importância na área. As modificações sociais e do mundo do trabalho tem trazido várias reflexões sobre como os trabalhadores têm visto sua própria existência e sua atuação como trabalhador. Alguns estudiosos como Christophe Dejours, Florence Bègue e Yves Clot têm se aproximado sobre o tema suicídio e trabalho. Entretanto a prevenção também deve estar presente entre as ações dos médicos do trabalho e os demais profissionais da área, lembrando das múltiplas relações conflituosas que podem existir no mundo do trabalho.
Aprofundar-se no tema, conversar sobre o mesmo, cuidar da saúde mental dos trabalhadores nas complexidades do mundo do trabalho e dos desencadeantes multifatoriais devem estar entre as propostas de trabalho dos profissionais da área.

Ao final da entrevista, a doutora sugeriu para leitura:

  1. Suicídio informando para prevenir, publicado pelo CFM e Associação Brasileira de Psiquiatria (2014)

http://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/index9/?numero=14&edicao=2548

  1. Suicídio, Um Problema Organizacional – Maria Ester de Freitas (2011)

http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/gvexecutivo/article/viewFile/22948/21715

  1. O Mito do Sisifo – ALBERT CAMUS/1942

Vera Lucia Zaher-Rutherford 
Médica do Trabalho e Psicóloga
Pesquisadora do LIM 01 da Faculdade de Medicina da USP

Agregar – Assessoria e consultoria em psicologia para as empresas

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