ESG: o que é e como se relaciona com a Medicina do Trabalho

Um movimento que ganha força é o movimento pelas empresas em se tornarem ESG, do inglês que significa Environmental, Social and Corporate Governance. Termo que oficialmente surgiu em 2004, quando um grupo de 20 instituições financeiras com ativos combinados sob gestão de mais de US $ 6 trilhões, endossaram um relatório facilitado pelo Pacto Global da ONU intitulado de “Who Care Wins: Conectando o mercado financeiro a um mundo em mudança”. O objetivo do documento foi para que as instituições financeiras buscassem abordar a questão central da integração sociais, ambientais e de governança corporativa em suas análises de pesquisa, análises de mercado financeiro e investimento. Isto demonstra um movimento por um capitalismo mais consciente, mas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa.

Segundo o relatório, “o investimento bem-sucedido depende de uma economia vibrante, que depende de uma sociedade civil saudável, que depende, em última análise, de um planeta sustentável. No longo prazo, portanto, os mercados de investimento têm um claro interesse próprio em contribuir para uma melhor gestão dos impactos ambientais e sociais de forma a contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade global.”

Uma melhor inclusão dos fatores de governança ambiental, social e corporativa (ESG) nas decisões de investimento contribuirá, para mercados mais estáveis e previsíveis, o que é do interesse de todos os atores do mercado. Por isto, uma grande parte de investidores vem utilizando estes critérios ao analisar melhor seus investimentos. Uma das questões relevantes para o ESG é a saúde e segurança no ambiente de trabalho e deve compor os relatórios anuais e de sustentabilidade das empresas.

Infelizmente, apesar do termo ESG ou ASG (ambiental, Social e Governança corporativa) estar tão presente nas discussões das empresas e fundos de investimentos, o tema de “saúde” no “S” de social continua pouco presente. Ganhando espaço, porém de participação pouco significante nas métricas ESG reportadas pelos relatórios financeiros de investimentos das grandes empresas.

Vários estudos demonstram que, a longo prazo, as empresas que promovem e protegem a saúde, segurança e bem-estar dos trabalhadores estão entre as mais bem-sucedidas, competitivas, possuem melhor desempenho no mercado financeiro, desfrutam de melhores taxas de retenção de funcionários e de forma mais sustentável.

Alguns destes estudos merecem atenção. Em comparação com as S&P 500 (índice do mercado de ações que reúne as 500 maiores empresas do mundo listadas e domiciliadas nas principais Bolsas de Valores dos Estados Unidos, a NYSE e a Nasdaq), as empresas que alcançam uma cultura de saúde, com o desempenho superior em avaliações medidas pelo recebimento de vários prêmios de saúde, segurança e bem-estar, como o Prêmio Nacional de Realização de Saúde Corporativa (CHAA) do American College of Occupational and Environmental Medicine (CHAA), o C. Everett Koop (Koop) National Health Award, o Prêmio Gallup Great Workplace Award ou ser reconhecida como uma empresa de alta pontuação da Health Enhancement Resource Organization (HERO) apresentaram melhor desempenho de ações corporativas de forma sustentável e por mais de uma década. (FABIUS & PHARES, 2021).

Apesar da consistente regulamentação em saúde e segurança no Brasil, ainda temos realidades distintas. Temos alguns centros de excelência nas empresas, porém prevalece o modelo binário “apto” e “inapto” e focado muitas vezes no monitoramento de fatores de riscos ocupacionais sem uma visão mais abrangente dos demais fatores de risco que envolvem os psicossociais, da organização do trabalho, riscos relativos ao adoecimento pelas doenças crônicas e outros. Este modelo deve dar espaço ao monitoramento, orientação e aconselhamento de fato não somente nos exames ocupacionais, mas estendendo-se às demais práticas de saúde e bem-estar nos diversos ambientes de trabalho.

Por isto, o modelo de atenção à saúde do trabalhador deve focar nos múltiplos determinantes de saúde relacionados aos agravos à saúde, adotando práticas ligadas a visão integral do trabalhador. Também, uma abordagem integrada da proteção e promoção da saúde na empresa pode beneficiar trabalhadores e empregadores. Esforços integrados podem melhorar o ambiente de trabalho físico e organizacional voltados a proteção e promoção e gestão integrada da saúde nos ambientes de trabalho.

O engajamento da alta liderança das empresas e de acionistas incorporando investimentos em saúde e utilização de indicadores (KPIs) para monitorar os resultados de saúde traz uma visão mais sustentável ao negócio e as empresas mais comprometidas com a saúde obtém seguramente os melhores resultados em todos os sentidos. Ganham os trabalhadores, ganham as empresas, ganha a sociedade.

*O texto publicado reflete a opinião pessoal do autor

Alexander Buarque
Médico e especialista em Medicina do Trabalho pela Universidade Federal do Paraná UFPR. MBA em Gestão Estratégica Empresarial na Fundação Getúlio Vargas. Mestrado em Patologia pela Universidade Federal do Paraná. Ergonomia pelo CNAM/Paris. Diretor de Ética da APMT.

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