Convidamos dois colegas para falar de saúde mental!
Uma médica experiente e um profissional que está iniciando sua jornada na medicina do trabalho, como medico examinador, compartilharão suas perspectivas respondendo a seguinte pergunta:
De que forma o médico do trabalho pode contribuir para a saúde mental dos colaboradores?
Acompanhe nossas reflexões e vamos juntos promover um ambiente de trabalho mais saudável e acolhedor! 
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Por: Dr. Thiago Parra
Pós Graduado em Medicina do trabalho
2 Anos Médico examinador em multinacional alimentícia.
A saúde mental no ambiente de trabalho é um tema cada vez mais relevante, especialmente diante do aumento expressivo de afastamentos por transtornos relacionados ao estresse, ansiedade e depressão. Dados recentes do INSS mostram que, somente em 2024, mais de 472 mil trabalhadores foram afastados por problemas psiquiátricos — um crescimento de 68% em relação ao ano anterior. Isso representa cerca de 10% de todas as licenças médicas concedidas no país.
Nesse cenário, o papel do médico do trabalho torna-se estratégico e indispensável. Ele atua de forma preventiva, promovendo hábitos saudáveis entre os colaboradores, como a prática de atividade física regular, a manutenção de uma alimentação equilibrada, pausas programadas para descanso e a introdução de técnicas de atenção plena. Além disso, esse profissional também oferece suporte psicológico imediato, faz encaminhamentos para psicoterapia quando necessário e acompanha de perto os casos identificados, garantindo continuidade no cuidado.
O médico examinador, por sua vez, desempenha uma função fundamental tanto nas avaliações admissionais e periódicas quanto nos primeiros atendimentos. Durante esses momentos, é possível identificar demandas psíquicas precoces e orientar o trabalhador para cuidados especializados, reforçando a importância da prevenção e da promoção da saúde mental.
Essas ações conjuntas contribuem para a criação de ambientes de trabalho mais saudáveis, produtivos e seguros, nos quais os colaboradores se sentem valorizados e acolhidos. Vale destacar que o Brasil lidera os índices de ansiedade no mundo, com 18 milhões de pessoas afetadas (9,3% da população), além de registrar cerca de 12 milhões de casos de depressão. A pandemia de Covid-19 intensificou ainda mais esse quadro, aumentando em até 90% os diagnósticos de depressão em poucos meses e elevando os níveis de ansiedade em 80% da população.
A partir de maio de 2026, a legislação brasileira também passa a exigir que as empresas façam gestão dos riscos psicossociais, isso reforça a necessidade de desenvolver programas específicos para o tema e o médico do trabalho tem grande protagonismo na gestão da nova NR1 na gestão do risco psicossocial.
Por: Dra Danielle Nogueira
Médica do Trabalho +20 anos de experiência em grandes empresas.
MBA pela FGV em gestão de serviços de saúde.
As possibilidades de abordagem para o médico do trabalho são diversas e abrangem tanto aspectos individuais para com o colaborador quanto aspectos coletivos relacionados ao ambiente de trabalho, lideranças, Rh, equipes, jurídico, segurança do trabalho, entre outros. Como estamos no Setembro Amarelo quero destacar as abordagens relacionadas a prevenção de suicídio, pois também há muito a fazer nesse sentido. Sabemos que mais de 90% dos casos de suicídio existe um transtorno mental associado. Assim dentro das abordagens de saúde mental devem estar claramente incluídos as relacionadas a prevenção de suicídio. Algumas possibilidades são: incluir abordagem sistemática do risco de suicídio dentro da triagem de saúde mental nos exames ocupacionais que pode ser utilizando questionário validados para tal e nos atendimentos ocupacionais e assistenciais relacionados saúde mental.
Nesse aspecto é importante ter um protocolo claro de triagem, estratificação do risco e conduta a ser adotada de acordo com o risco mapeado. O protocolo deve incluir os locais de encaminhamento para cuidado assistencial e as comunicações desnecessárias com familiares, rede de apoio, liderança, entre outras, tudo resguardando o princípio éticos de confidencialidade e proteção. O médico do trabalho deve desenvolver protocolos para prevenção de suicídio em situações de maior risco, por exemplo, durante o afastamento do trabalho ou na comunicação de desligamento do trabalho.
Destaco a importância de incluir o mapeamento da rede de suporte para o colaborador durante o afastamento do trabalho por transtorno mental. Sabemos que a solidão ou uma rede de apoio escassa aumenta o risco para o evento. Outro fato importante é que a maioria das pessoas que comete suicídio falou sobre a intenção antes e isso não pode ser negligenciado.
Assim, todos no ambiente de trabalho, incluindo as lideranças, devem ser treinados a capturar falas de um colega que podem significar risco de suicídio. O treinamento deve incluir: identificação de falas que podem significar pensamentos suicidas, escuta empática, sem julgamentos e principalmente a forma de encaminhar/ indicar a pessoa como e onde obter ajuda. O Serviço de Saúde ocupacional deve ser notificado da situação para o suporte adequado, pois a situação pode representar risco a vida. Que possamos dedicar um pouco do nosso tempo nesse Setembro Amarelo para mapearmos como estão nossas ações e preparo para a prevenção de suicídio. Vamos juntos cuidar ainda mais desse bem tão precioso que é a vida.
Ainda sobre o tema é importante trabalhar no estigma que cerca todas as doenças mentais e também o suicídio. É importante saber que a maioria dos suicídios pode ser prevenida, mas nem todos. E é fato que pessoas que já tiveram ideário suicida ou tentativa de suicídio podem ter sua capacidade de trabalho restaurada e exercerem suas funções sociais normalmente.
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