Desde os primórdios da humanidade o trabalho da mulher foi essencial à sobrevivência do ser humano mas isto não impediu que, em muitas culturas e épocas, as mulheres fossem oprimidas e colocadas em uma posição de inferioridade em relação aos homens. Ao longo dos séculos, mulheres de todas as classes sociais tiveram menos poder e independência que os homens de uma mesma classe, social ou profissional. Muitas mulheres na História lutaram para ter direitos como os homens e serem tratadas com dignidade e respeito.
As mulheres operárias participantes de movimentos sindicais no final do século 19 tiveram forte influência nesta luta promovendo protestos em vários países da Europa e nos Estados Unidos contra as jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias, de salários medíocres introduzidos pela Revolução Industrial e da real presença das jornadas duplas. Reivindicaram também através de vários movimentos grevistas melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante este período.
O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política no país. Mas foi o incidente ocorrido em 25 de março de 1911 que marcou a trajetória das lutas feministas ao longo do século 20 quando um incêndio ocorrido em uma fábrica têxtil de Nova York matou 130 operárias. Embora não se tenha certeza, acredita-se que este incidente tenha dado a origem à criação do Dia Internacional da Mulher.
Na medicina, a Dra. Rita Lobato de Freitas, primeira mulher a se formar em território brasileiro, na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1887 e abriu o caminho para que outras tantas mulheres se dedicassem ao exercício desta profissão.
De acordo com estudo realizado no Brasil em 2018 pelo CFM/ CREMESP/ FMUSP há um século, em 1920, as mulheres representavam somente 21,49% dos médicos no Brasil. Em 2010 este índice já tinha subido para 39,91% e tem aumentado a semelhança de países mais desenvolvidos como os Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Irlanda e Noruega. Atualmente, os homens ainda são maioria entre os médicos, com 54,4% do total profissionais, ficando as mulheres com uma representação de 45,6%. Porém, essa distância vem caindo a cada ano, sendo que o sexo feminino já predomina entre os médicos mais jovens, sendo 57,4%, no grupo até 29 anos, e 53,7%, na faixa entre 30 e 34 anos.
Se considerarmos por estados, em dois deles, as médicas já são maioria: no Rio de Janeiro, onde somam 50,8% dos profissionais, e em Alagoas, com 52,2%. Além deles, o percentual também é alto em Pernambuco (49,6%), Distrito Federal (47,6%) e Paraíba (47,5%). Em São Paulo, as médicas são 45,4% do total e em Minas Gerais, 42,9%. Em contrapartida, o Piauí tem a menor presença feminina, com 37%. Essa tendência também surge no Amapá (37,2%), Goiás (38,5%) e Santa Catarina, com 38,8%.
O ingresso de mulheres nos cursos médicos no Brasil tem sido maior nos últimos 10 anos e a pesquisa estima ainda, que até o ano de 2028, haverá um equilíbrio entre mulheres e homens no exercício da medicina no País.
Segundo a AMB, desde 2004 as mulheres são maioria nas escolas médicas e, desde 2009, a maioria em inscrições nos CRMs.
Na área da Medicina do trabalho, em recente enquete realizada pelo médico do trabalho Luiz Fernando Gagliardi com profissionais médicos do trabalho de todos os estados da federação encontramos uma proporção equilibrada entre homens e mulheres. Dos 630 entrevistados 316 eram do sexo masculino e 314 do sexo feminino. Dentre os homens 262 tinham título de especialista e 237 mulheres também possuíam o título de especialista.
As grandes conquistas obtidas pelas mulheres no último século também influenciaram muitas ações no campo da Saúde e Segurança do Trabalho. Vista no início, com desconfiança por muitos empresários e gestores de RH a participação das mulheres na área da Medicina Ocupacional e da Segurança do Trabalho vem se solidificando nas últimas décadas. Hoje engenheiras, médicas, técnicas de segurança estão presentes no chão de fábrica, nos canteiros de obras espalhados pelas cidades e estradas, nas assessorias, nos grandes escritórios corporativos, nas varas de justiça, nas escolas e nos hospitais comandando equipes e chefiando departamentos.
A capacidade de ouvir com empatia, a solidariedade, o senso de responsabilidade tão peculiar às mulheres fizeram enorme diferença neste último ano tão atípico. Médicas, muitas delas responsáveis por suas famílias, enfrentaram e venceram desafios enormes dentro de seu ambiente laboral, combativas e resilientes não deixaram que o sentimento de impotência paralisassem seus passos e limitassem suas ações e o peso de suas decisões não impediram que a esperança renascesse superando o medo e a ansiedade.
Na APMT a participação das mulheres sempre foi valorizada. Durante os primeiros 10 a 15 anos, apenas 1 ou 2 mulheres participavam da Diretoria, mas nas últimas o número de colaboradoras tem crescido. Na gestão atual (2019-2022), 7 mulheres integram a diretoria e pela primeira vez a presidência é ocupada por uma mulher.
As médicas do trabalho vieram somar esforços na luta pelo reconhecimento e uma maior representatividade da nossa especialidade.
Não poderia deixar de registrar aqui a minha admiração e respeito pelos nossos colegas, médicos do trabalho integrantes de todas as diretorias da APMT que sempre nos estimularam e apoiaram nos constantes desafios pela luta de melhores condições de trabalho e saúde a todos os trabalhadores e trabalhadoras do nosso estado e do nosso país, assim como a divulgação e aprimoramento do conhecimento técnico científico aos colegas mais jovens e a todos os associados. A vida associativa da APMT, sempre pautada no fortalecimento da categoria, proporcionou a todas nós ricas trocas de experiências. O aprendizado de todos estes anos nos fazem caminhar com esperança e fé em dias melhores.
“Não será por números, com igualdade ou mais homens ou mulheres na atividade que teremos uma melhor medicina. Será sob a consciência de cada um dos valores humanísticos de aplicar seu conhecimento, sua capacidade profissional em prol da saúde e bem-estar do paciente, sempre o respeitando em sua autonomia.”
Laura Moeller CRM-PR
Dra Regina Cristina Sabatier M. Leite
Fonte: A feminização da medicina no Brasil. Mário César Scheffer; Alex Jones Flores Cassenote. Demografia Médica no Brasil 2018 CFM/ CREMESP/ FMUSP