Dia Mundial da Saúde: muito além dos hospitais e das NRs

Dia Mundial da Saúde: muito além dos hospitais e das NRs
O Dia Mundial da Saúde, celebrado em 7 de abril, é um convite à reflexão que ultrapassa
os limites dos hospitais, consultórios e das Normas Regulamentadoras (NRs). Para os
médicos do trabalho, essa data assume um significado ainda mais amplo: é o momento de
reforçar a compreensão da saúde como uma construção complexa, que envolve não
apenas a ausência de doenças, mas o completo bem-estar físico, mental e social, como
afirma a própria definição da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No dia a dia, somos constantemente desafiados a ir além da vigilância das condições
laborais. O ambiente de trabalho, ainda que essencial, é apenas uma das engrenagens da
saúde dos indivíduos. A promoção do bem-estar passa, necessariamente, por uma
abordagem holística, que reconhece o ser humano em sua integralidade. É preciso
considerar o contexto de vida, os hábitos, os vínculos sociais e afetivos, os aspectos
emocionais e, também, os fatores estruturais que impactam diretamente o viver saudável.

Nesse sentido, o autocuidado emerge como um dos pilares fundamentais da saúde
moderna. Estimular nos trabalhadores a autonomia para cuidar de si mesmos – seja na
alimentação equilibrada, na prática regular de atividades físicas, no sono de qualidade ou
na atenção à saúde mental – é investir em uma força de trabalho mais resiliente, produtiva
e feliz. O estilo de vida saudável não é um luxo, mas uma estratégia essencial de
prevenção e promoção da saúde, que precisa ser incentivada também dentro das
empresas, com políticas e práticas que favoreçam escolhas saudáveis.

No entanto, ao falarmos de saúde, não podemos ignorar os determinantes sociais que
moldam a realidade de milhões de brasileiros: renda, escolaridade, moradia, acesso a
serviços públicos, transporte, alimentação adequada, cultura e lazer, entre tantos outros.
Esses fatores, muitas vezes invisíveis no diagnóstico clínico, são decisivos na
determinação da saúde ou da doença. Para o médico do trabalho, reconhecer esses
determinantes é ampliar o olhar sobre o adoecimento laboral, entendendo que ele pode
ser expressão de desigualdades que transcendem o posto de trabalho.

A essa perspectiva somam-se os determinantes ambientais, cuja relevância cresce diante
das mudanças climáticas e da degradação dos ecossistemas. O aumento das temperaturas,
a poluição do ar, a escassez de água e a ocorrência de desastres naturais impactam
diretamente a saúde das populações e alteram as condições de trabalho, especialmente em
setores mais vulneráveis. Doenças respiratórias, agravos cardiovasculares, estresse
térmico e transtornos mentais relacionados a eventos extremos são apenas alguns dos
efeitos já observados. Nesse contexto, o médico do trabalho também deve estar atento às
transformações ambientais e seu reflexo na saúde ocupacional, contribuindo para
estratégias de adaptação e proteção da força de trabalho.

Assim, o Dia Mundial da Saúde deve nos lembrar de que nosso compromisso vai além do
cumprimento de normas técnicas. É também um chamado ético para contribuirmos com
uma sociedade mais justa, que ofereça reais condições para que todos possam viver com
dignidade e bem-estar.

E o médico do trabalho, com a sua formação técnica e humanista, tem um papel
fundamental para empoderar os trabalhadores e seus familiares, capacitando-os a assumir
o controle de sua saúde e oferecendo os instrumentos para a melhoria da qualidade de
vida.

Porque saúde, afinal, não se constrói apenas com remédios e exames. Constrói-se com
empatia, prevenção, acolhimento e, sobretudo, com a valorização da vida em sua
plenitude. Lembramos o epidemiologista Michael Marmot em seu livro seminal The
Health Gap: “Por que tratar as pessoas e devolvê-las ao ambiente que as deixou doentes?”

  • Autor: Dr. Alberto José Niituma Ogata
    Médico, Mestre em Medicina, Mestre Profissional em Economia e Gestão da Saúde, Doutor em Medicina Preventiva e Saúde Coletiva. Ex Presidente da ABQV e IAWHP. Pesquisador associado ao Centro de Pesquisa em Administração em Saúde da Escola de Administração de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.
    – https://eaesp.fgv.br/pessoa/alberto-jose-niituma-ogata

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