O uso de tecnologias da saúde como ferramentas de gestão de saúde integrada na saúde ocupacional frente a pandemia de COVID-19
O uso de tecnologias de saúde dentro do serviço de saúde ocupacional é algo indispensável para que se faça o mapeamento populacional dos funcionários da empresa e revela um amplo perfil epidemiológico, principalmente no que tange aos hábitos de vida e histórico de saúde. A gestão de saúde populacional se tornou uma ferramenta de auxílio para os médicos do trabalho (principalmente aos que atuam a nível de gestão) para a melhor tomada de decisões corporativas baseadas na análise de sua população. No entanto, frente a pandemia de um vírus em que há diversos grupos de risco (maiores de 60 anos e outras comorbidades) e que as medidas de isolamento/distanciamento social são as recomendadas para conter o contágio, como fazer o bom uso dessas ferramentas para o manejo de trabalhadores?
O uso de sistemas de informações de saúde permite reunir dados sobre o histórico de saúde dos trabalhadores das empresas através formação de indicadores. O prontuário eletrônico é a principal ferramenta de alimentação do banco de dados, sendo o exame ocupacional o momento ideal para colhimento de informações, assim como a análise de atestados possa ser um importante aliado. A reunião destes dados pode ser feita através de softwares de gestão, principalmente no caso de grandes empresas, em que a população de trabalhadores é grande, ou de forma mais simples, mas também eficaz, através de sistemas de planilhas eletrônicas, nos casos de empresas com população mais modesta (pequenas e médias). O uso do CID-10 talvez seja o melhor parâmetro para construção de bancos de dados baseados em saúde populacional: a compilação dessas informações leva a um mapeamento populacional indicando a nível individual e coletivo, quem e quantos são os portadores de morbidades
Dessa forma, saber quem faz parte do grupo de risco para o COVID-19 permite adotar melhores decisões frente à pandemia: O médico gestor pode tomar ações, em alinhamento com os demais setores, para fazer o afastamento preventivo das pessoas enquadráveis nos grupos de riscos. O uso de algoritmos que incluam as pessoas maiores de 60 anos e a determinação de quais doenças são consideradas como fatores de riscos, fazem com que a comunicação se torne mais rápida e ágil, como por exemplo: envio de e-mail ou outro tipo de comunicação eletrônica, informando o trabalhador do seu enquadramento e permitindo o afastamento ou autorização para trabalho remoto. Importante salientar, que o uso de IA (Inteligência Artificial) pode acelerar o processo, mas somente se o banco de dados (BIG DATA) tiver sido bem alimentado – por isso quem está a nível operacional, deve manter constantemente a inserção dos dados.
Alguns vieses podem ocorrer, como por exemplo, outros estados de saúde e a presença de algumas patologias que necessitam de outros critérios para serem consideradas como grupo de risco, por exemplo, gravidez e o uso de terapias que possam levar a imunossupressão. Em geral, cada caso pode ser analisado individualmente, fazendo rastreamento ativo/monitoramento clínico por telefone ou outros meios de contato, desde que atendam aos requisitos das Portaria N° 467 de 20 de março de 2020, do Ministério da Saúde, evitando assim uma possível saída do isolamento social por parte dos funcionários.
Outras medidas podem ser adotadas pelas empresas como forma de rastreio: uma se baseia na aferição da temperatura corporal ao chegar na empresa, por equipe devidamente treinada, com uso de termômetros (os de laser/infravermelho são ótimas alternativas devido a manutenção de distância relativamente segura) ou com uso de termografia (geralmente feita pela vigilância treinada). Outra forma, seria a de criação de apps ou de questionários de saúde (principalmente online, inclusive alguns disponibilizados em módulos dos sistemas de gestão de saúde) que possibilita monitorar remotamente os trabalhadores através de anamnese dirigida. Nesse caso, principalmente em caso de suspeita de quadro clínico de síndrome respiratória, o afastamento pode ser feito de forma segura pela equipe de saúde. Assim como, monitoramento de pessoas confirmadas para covid-19 e avaliação das sorologias (o que em tese, permitiria o retorno ao trabalho de pessoas curadas e comprovadas por exame laboratorial).
Em resumo, o uso de tecnologias na saúde não é algo novo, mas tem se mostrado extremamente promissor como ferramenta de gestão integrada nas empresas, principalmente no contexto atual de enfrentamento da pandemia de COVID-19. A otimização dos processos de avaliações de saúde, a criação de fluxos de triagem mais seguros e a eliminação de barreiras físicas para que haja a manutenção da saúde do trabalhador, permitem que as empresas, engajadas pelo setor de saúde, possam fazer o manejo dos seus funcionários de forma eficiente e eficaz, preservando sua força de trabalho e reafirmando seu papel na sociedade no combate ao vírus.
Alexandre Ralph Flores de Queiroz
Médico do Trabalho no Metrô de São Paulo. Especialização em Medicina do Trabalho pela FMUSP. Associado da APMT