Setembro Amarelo – Mês de Prevenção ao Suicídio

Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos, para cada pessoa que se suicida há mais pessoas que tentam se suicidar e muitas mais que pensam em se suicidar. O suicídio é um tema que necessita atenção de toda sociedade, o papel do médico não é somente reduzir o risco de suicídio no seu paciente, mas sim multiplicar conhecimento a respeito desse tema e divulgar os fatores riscos de forma mais abrangente.

A OMS define o suicídio como “um fenômeno multifatorial, multideterminado e que se desenvolve por trajetórias complexas, porém identificáveis”. Essa definição indica que podemos identificar e minimizar fatores de risco, porém o desfecho ainda pode ser o não desejado, dada a complexidade da situação.

No Brasil, apesar das taxas de mortalidade de suicídio não se destacarem quando comparamos com os outros países, elas são crescentes, houve um aumento de 26,5% nas taxas de suicídio entre 2000 e 2012 no país, algo bem preocupante.

Uma informação importante é que os jovens tentam mais suicídio, com baixa letalidade, ao contrário dos idosos, que tentam menos, mas tem mais êxito.

Alguns estudos nacionais mostram que muitas pessoas pensam em suicídio, mas a minoria delas tem acesso a atendimento médico e muitas que tem acesso a esse atendimento não chegam a um psiquiatra, portanto, deixamos de ajudar um grande número de pessoas que estão em sofrimento mental e possivelmente são portadoras de algum transtorno mental. Por conta disso é muito importante divulgar o conhecimento sobre o tema, divulgar os fatores de risco para suicídio para que as pessoas comecem a identificar nos seus amigos e familiares esses fatores e incentivá-los a procurar ajuda.

Um dos fatores de risco mais negligenciados para o suicídio são as tentativas prévias, infelizmente ainda há muita desinformação em relação a essa associação tão importante. Muitos leigos e infelizmente muitos profissionais de saúde ainda enxergam a tentativa prévia de suicídio como um fator protetor. Pensam “essa pessoa já tentou várias vezes, quer chamar atenção, não vai se matar de verdade”. Pensamento duplamente equivocado, já que estatisticamente muitos suicidas tentaram previamente e um indivíduo que deseja chamar atenção de modo tão disfuncional é um indivíduo que no mínimo precisa de algum apoio emocional e tratamento adequado.

Ser portador de doença mental é o principal fator de risco para o suicídio. Vários transtornos psiquiátricos estão associados ao risco de suicídio, pesquisadores falam em mais de 90% dos suicídios tem como causa uma doença mental. O transtorno bipolar e a depressão estão entre os transtornos mentais que mais aumentam risco de suicídio, sendo que a depressão se destaca epidemiologicamente, porque tem uma prevalência muito maior (5,5% das pessoas irão apresentar depressão ao longo de um ano), mas, por sua vez, o transtorno bipolar é o transtorno que mais aumenta o risco de suicídio (cerca de um quarto dos pacientes bipolares tem uma tentativa de suicídio ao longo da vida).

Outros transtornos que apresentam um risco aumentado para o suicídio são a abuso de álcool e drogas, esquizofrenia e transtorno de personalidade borderline. Um estudo mostrou que cerca de 30% dos pacientes esquizofrênicos que tentaram suicídio apresentavam sintomas depressivos semanas antes da tentativa. Dessa forma sintomas depressivos presentes, seja num episódio depressivo ou em qualquer outro transtorno mental é um importante fator de risco para o suicídio.

E dentro dos quadros depressivos, quais são os mais importantes fatores de risco? Sexo masculino, tentativas prévias, histórico familiar de doença mental, ansiedade associada, abuso de substâncias, desesperança e gravidade do quadro. Sendo que a tentativa prévia de suicido aumenta em 4,8% o risco de suicídio, sendo um fator mais importante do que a gravidade global do episódio depressivo.

Outros fatores não menos importantes são o sentimento de desesperança, o desemprego ou perda financeira, a dor crônica e a história familiar de suicídio. Ter acesso aos meios mais letais também é um fator de risco, já que muitas tentativas ocorrem em momentos de impulsividade e desespero, e nesses momentos, ter acesso a um meio letal é um grande risco.

Abordar o tema com o paciente, falar sobre os fatores de risco, trazer o tema para discussão com uma abordagem técnica são fatores protetores, já a divulgação de métodos de suicídio, cartas suicidas e histórias sensacionalistas pelas mídias e redes sociais é um fator de risco que deve ser combatido (dados da OMS). Além de não divulgar de forma sensacionalista o tema, combater o estigma do ato de procurar ajuda é fundamental. Desastres, guerra, conflitos, discriminação, traumas e abusos na infância também aumentam o risco de suicídio, assim como solidão, desemprego e ausência de apoio familiar e social.

E como abordar um paciente quando se identifica a presença dos fatores de risco ou quando ele traz em sua fala ideias de morte ou ideação suicida? Empatia, escuta e não julgamento. Escutar o problema com atenção, fornecendo apoio emocional, entender os motivos que levaram o paciente a pensar sobre o suicídio e focalizar nos aspectos positivos do paciente e de como em ocasiões anteriores ele resolveu alguns dos seus mais graves problemas, são abordagens adequadas para a situação.  Garantir que os pacientes sejam adequadamente diagnosticados e que recebam tratamento reduz o principal fator de risco do suicídio que é a presença de um transtorno mental.

 

BOTEGA, N. J. Prática psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. 2. ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2006.

CASSORLA, R. M. S. Do suicídio: estudos brasileiros. Campinas: Papirus Editora, 1991.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Figures and facts about suicide. Geneve: WHO, 1999

 

Dra Leika Sumi – Graduação e Residência Médica em Psiquiatria pela UNESP. Atualmente médica psiquiatra em consultório próprio.

www.leikasumi.com

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