Dizem que o primeiro de abril, conhecido como dia da mentira, teve sua origem no século XVI, na França, onde o rei Carlos IX tornou oficial o novo calendário proposto pelo Papa Gregório XIII que modificava datas comemorativas. Assim, o ano novo que era comemorado entre os dias 25 de março até 01º de abril (sim! dizem que as comemorações duravam uma semana), passou a ser comemorado no dia 1º de janeiro. Como na época as notícias demoravam a atingir grande parte da população, aqueles que sabiam que o calendário antigo havia sido revogado, passaram a zombar dos desavisados pois esses continuavam comemorando de forma mentirosa a passagem do ano. Foi assim que o dia 1º de abril ficou conhecido como o dia da mentira. O novo calendário, ao ser instituído oficialmente em todos os países católicos, fez com que o dia da mentira se propagasse para outras regiões do mundo ocidental, além da França.
E o que é mentir? Mentir é dizer algo sabendo que é falso. Muitas vezes, com convicção. Nada mais comum em nosso tempo de redes sociais e comunidades virtuais onde o direito de opinar, mesmo sem conhecimento, é garantido e muitas vezes confere popularidade e fama ao mentiroso. O revisionismo histórico, teorias que distorcem deliberadamente a verdade (pós verdade) e a desinformação fazem parte do cenário.
Nesse cenário há quem ainda acredite que a Medicina do Trabalho é a especialidade cuja única função é emitir atestados de saúde para confirmar aptidão ou não de trabalhadores. O que é uma mentira.
Nesse sentido, a data é apropriada para esclarecermos as pessoas e demais especialistas sobre as práticas e objetivos dessa especialidade médica, há décadas reconhecida como tal. Vamos às verdades:
O médico do trabalho tem como objetivo principal de suas atividades, evitar que o trabalho, local onde passamos grande parte de nossas vidas, seja causa de adoecimento. É o médico responsável pela manutenção da saúde de trabalhadoras e trabalhadores e, num objetivo mais amplo, pela promoção da saúde e prevenção de doenças dessas populações.
A atuação desses profissionais ocorre dentro das empresas, do mundo corporativo, e se desenvolve simultaneamente, ao cuidar de indivíduos e, ao mesmo tempo, da população de empregados.
Assim, na formação desses especialistas, é necessário o conhecimento tanto da clínica médica, como da saúde pública. Além do atendimento assistencial ensinado nas graduações médicas, é preciso compreender os conceitos de promoção da saúde e prevenção de doenças, sem os quais, os exames médicos ocupacionais previstos na legislação, em especial os exames periódicos, perdem seu sentido.
É necessário conhecer os processos de trabalho para evitar ou eliminar os perigos ocupacionais, identificar os perigos e possíveis lesões ou agravos à saúde, bem como avaliar os riscos ocupacionais indicando o nível de risco. Para tanto, a formação dos médicos do trabalho envolve vários campos do conhecimento, bem como, da colaboração e participação de outros profissionais e seus saberes, tais como: Enfermeiros(as) do Trabalho, Técnicos(as) de Enfermagem do Trabalho, Engenheiros(as) de Segurança do Trabalho, Técnicos(as) de Segurança do Trabalho, Ergonomistas, Fisioterapeutas, Fonoaudiólogos, Psicólogos, Assistentes Sociais, entre outros.
Diferente de outras especialidades, cujo contato com pacientes ocorre durante tempo determinado, os médicos do trabalho exercem a especialidade no ambiente das pessoas que cuidam e com tempo e disponibilidade incomparáveis . É a especialidade médica necessária para a manutenção da saúde dos trabalhadores e para a construção de ambientes de trabalho saudáveis.
Autor:
Páris Ali Ramadan
Especialista em Clínica Médica
Especialista em Medicina do Trabalho – FMUSP
Doutor em Ciências – FMUSP
Médico do Trabalho concursado da Prefeitura da Cidade de São Paulo e do Banco do Brasil