Nesse último ano, de todos os setores da economia que vêm sentindo os reflexos da pandemia do coronavírus, o setor de cultura foi um dos mais afetados, uma vez que é uma atividade cujo envolvimento com o público é eminente. Nesse cenário, a cerimônia do Oscar não poderia ser diferente.
O ano de 2020 foi marcado pela escassez de grandes produções do cinema, porém vimos surgir uma ampla variedade de filmes pelas plataformas de streaming, incentivadas, em parte, pela revogação quanto à exigência de que os filmes passassem pelos cinemas de Los Angeles.
Entretanto, o Oscar de 2021 será definitivamente marcado pela diversidade. Nos últimos anos, a cerimônia tem recebido muitas críticas por privilegiar homens brancos em suas nomeações. Para 2021, várias das indicações de prêmio mais aguardado do cinema contemplam minorias. Na direção, pela primeira vez duas mulheres disputam a categoria ao mesmo tempo. Para melhor ator, três dos cinco indicados não são brancos. Mais ainda, alguns filmes retratam realidades de populações que não a branca norte-americana ou europeia.
O grande vencedor da noite foi o filme Nomadland, longa inspirado no livro-reportagem sobre idosos que vivem em automóveis nos EUA e que perderam tudo com a crise de 2008. A personagem principal do filme cai na estrada após perder o emprego, e sua cidade desaparecer do mapa, com a desativação de uma grande fábrica. Uma grande provocação para uma sociedade fundada basicamente na crença do mérito e da recompensa pelo esforço individual.
Outro concorrente da noite para o prêmio de melhor filme foi O Som do Silêncio. O filme narra os acontecimentos na vida do baterista de heavy metal que, repentinamente, perde a audição em plena turnê. Com a perda auditiva, o protagonista não consegue mais tocar nas turnês e vê sua vida transformada, ao precisar aprender a lidar com sua nova realidade. A sutileza do filme está na reprodução dos sons, silêncios e recomeços.
Ambos os filmes retratam situações de indivíduos que têm suas vidas modificadas pela perda do seu trabalho.
Em Nomadland, a perda do trabalho é resultado direto da crise econômica, uma realidade que muito se assemelha a que estamos vivendo com a pandemia de COVID. Nesse cenário, surge o desemprego e todas suas repercussões econômicas, de identidade e pertencimento à sociedade, o que nos faz refletir sobre os impactos do desemprego sobre a saúde dos indivíduos.
Já em O Som do Silêncio, a perda do trabalho é decorrente de uma doença que incapacita o protagonista para seu trabalho. Uma realidade muito próxima do médico do trabalho, que em seu ofício de acolher o trabalhador, enfrenta os desafios da redução da capacidade de trabalho de seus pacientes, pelos efeitos das inúmeras doenças que os acometem.
Como reflexão, ambos os filmes, de uma forma ou outra, tratam da perda do trabalho e suas duas repercussões, revelando que ,essa atividade , é uma peça essencial na vida do homem…
Dra Daniele Maciel – Diretoria de Comunicação