Dia Mundial do Coração

DIA MUNDIAL DO CORAÇÃO
O comum é não perceber o quanto bate o coração, seja ao longo dos dias de trabalho, nos momentos de lazer ou quando estamos pensativos. Vez ou outra, após uma corrida para pegar o ônibus ou quando levamos um susto após uma “fechada” no trânsito provocada por um distraído ao celular, por exemplo, até dizemos: “- Nossa! Meu coração quase sai pela boca!”, mas depois logo esquecemos esse pequeno e diletante órgão, em geral mais ou menos do tamanho de nossa mão fechada e que não é capaz de, sozinho, sair de seu espaço no mediastino.

 

O coração trabalha incessantemente, suportando quem o conduz, proporcionando todo o substrato para o funcionamento do organismo humano, por intermédio do bombeamento de sangue oxigenado e rico em elementos fundamentais por uma vasta rede de canais de diâmetros e comprimentos diversos, estrategicamente posicionados, compondo um conjunto vital: a rede cardiovascular. Enquanto a circulação está patente e o coração ativo, há vida.

 

Hipócrates (460 a 370 a.C.) descreveu a importância do coração para a saúde humana. Antes ainda, para Homero, poeta épico da antiga Grécia, o local onde os sentimentos e afetos se manifestariam seria o coração e, ainda hoje, poetas e artistas lembram o coração como o centro do afeto, da paixão e do amor. Cartola (Angenor de Oliveira – 1908 a 1980), poeta e compositor considerado por diversos músicos e críticos musicais como o maior sambista da história da música brasileira, trouxe ao coração a possibilidade de unir-se a sentimentos e, talvez, ser controlado por eles para executar suas contrações ritmadas, em uma de suas “pérolas” do cancioneiro popular brasileiro: “As rosas não falam”. Ele canta: “Bate outra vez, com esperanças o meu coração, pois já vai terminando o verão, enfim.” E a relação entre o coração e o sentimento humano é tão forte que dificilmente, na mente das pessoas, uma alegria ou tristeza, uma saudade ou felicidade seria incapaz de tocar o coração. Também Chitãozinho e Xororó, dupla de sucesso conhecida de todos, poetizaram essa relação sentimental do coração com a vida humana em uma de suas canções mais tocadas e cantadas em nosso País, “Evidências”, na qual cantam: “E nessa loucura de dizer que não te quero/ Vou negando as aparências/ Disfarçando as evidências/Mas pra que viver fingindo/Se eu não posso enganar meu coração?/Eu sei que te amo!”. De fato, não se pode enganar o coração, pois ele é feito para realizar o seu trabalho desde o nascimento, sem parar, sem perder o ritmo, contraindo e relaxando de 60 a 100 vezes por minuto, acelerando quando necessário para suprir todos os demais órgãos e reduzindo a velocidade em momentos de paz. Muitas vezes ouvimos de alguém, após vencer um desafio de qualquer espécie: “– Agora meu coração está em paz.

 

Quando o médico francês René Laennec, no início do século XIX, inventou o estetoscópio, os médicos deixaram de encostar o ouvido sobre o peito dos pacientes tendo entre eles um fino lenço de linho. O coração passou a ficar mais próximo dos médicos e alterações do ritmo cardíaco e das válvulas puderam ser identificados com maior precisão. E desde o surgimento do Eletrocardiógrafo, por volta de 1903 por Einthoven, médico e fisiologista holandês que posteriormente recebeu um Prêmio Nobel, a atividade elétrica do coração passou a ser interpretada com mais clareza e o Eletrocardiograma (ECG) ainda hoje é peça indispensável para o diagnóstico cardiológico. Desde então a ecocardiografia, a cirurgia cardíaca, a angioplastia e o desenvolvimento de stents (dispositivos tubulares que são inseridos em artérias estreitadas para mantê-las permeáveis) e os transplantes cardíacos vieram possibilitar o tratamento de patologias cardíacas com mais sucesso. Hoje em dia a terapia celular e a terapia genética já estão nas mãos dos pesquisadores aprimorando pouco a pouco o arsenal terapêutico direcionado a esse pequeno e fundamental órgão, que nesse momento, enquanto lemos esse texto, está batendo dentro do nosso peito, sem alarde, sem pedir folga e sem reclamar. Mas, precisa ser bem cuidado.

 

Com todo esse conhecimento técnico acumulado e em progressão e toda essa tecnologia avançada, ainda é melhor prevenir do que remediar. O coração nos agradece, mantendo sua atividade sem falhar, enquanto mantivermos bons hábitos de vida: praticando atividade física, inserindo alimentação equilibrada e sem excessos em nosso cotidiano, mantendo o peso dentro de limites aceitáveis e evitando o tabagismo de qualquer espécie. Realizar visitas ao médico periodicamente para controlar o colesterol, o nível de açúcar no sangue e manter a pressão arterial dentro de limites seguros, são medidas necessárias para a saúde do coração. Meditar em momentos diversos do nosso dia, também agradecer por tudo que conseguimos com nosso esforço e aos que nos apoiam em momentos difíceis, participar de ações voluntárias, dedicar tempo à família, brincar mais com os filhos e com os nossos “animaizinhos” de estimação, programar e aproveitar férias! Tudo isso faz muito bem ao coração.

 

No dia Mundial do Coração, reflita sobre tudo o que você já viveu, raramente percebendo que ele bate ditando ou acompanhando o seu ritmo. Converse com seu médico e não esqueça que seu coração precisa de sua atenção e de seu cuidado para prosseguir inspirando poetas e representando os melhores sentimentos humanos.

Artigo desenvolvido por:
Paulo Roberto Leal
, Médico do Trabalho (RQE 15707), MBA em Gestão de Saúde, membro do Conselho Científico da APMT.

Referências:
Coração [recurso eletrônico]; acessível em https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saes/snt/doacao-deorgaos/transplante-orgaos/coracao em 20/09/2024

História da Cardiologia [recurso eletrônico]; acessível em https://graduacao.afya.com.br/medicina/saiba-tudosobreahistoriadacardiologia#:~:text=A%20hist%C3%B3ria%20da%20Cardiologia%20remonta,cora%C3%A7%C3%A3o%20para%20a%20sa%C3%BAde%20humana.

Risk factors [recurso eletrônico];
acessível em https://www.cdc.gov/heart-disease/about/index.html

Doenças cardiovasculares [recurso eletrônico]; acessível em https://www.paho.org/pt/topicos/doencascardiovasculares

The Electrocardiogram at 100 Years: History and Future – Friedman, P.A.; Circulation Volume 149, Number
6 – https://doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.123.065489

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