Nos últimos anos a área de saúde tem passado por um processo de transformação digital. Podemos citar como exemplos, a implementação de prontuários eletrônicos em nuvens, sistemas de apoio ao diagnóstico, interpretação com inteligência artificial de exames complementares e outras tecnologias em desenvolvimento.
Neste cenário, a telemedicina através tecnologia de telecomunicação permite o suporte de especialistas a profissionais de atenção primária e até o relacionamento do médico diretamente com o paciente. Na medicina do trabalho, sua aplicação em algumas frentes tem trazido contribuições importantes a saúde da população. Neste período de pandemia do coronavírus (Covid-19), tem sido uma importante ferramenta para o gerenciamento, triagem, avaliação inicial e acompanhamento de casos leves a moderados. O que permite a proteção dos profissionais de saúde, diminui a sobrecarga do sistema de pronto atendimento/emergência e garante maior rapidez de acesso aos pacientes. Os resultados têm sido muito positivos para todos os envolvidos no serviço – sistema de saúde, médicos e pacientes. Outro exemplo, é o suporte de especialistas aos médicos do trabalho para análise de casos e investigação de doenças ocupacionais, permitindo maior rapidez e eficácia nas avaliações.
No entanto, a telemedicina ainda está em um estágio de desenvolvimento e pesquisa em relação a diversas atividades na área médica. Poderíamos dizer que ainda estamos na versão 1.0 e suas limitações são pontos importantes a serem avaliados e conhecidos pelos médicos do trabalho. Para garantir que ela agregue valor, temos que objetivar uma quádrupla meta baseada na qualidade do atendimento através da humanização deste contato, acesso que permita uma boa experiência ao usuário, equidade para que populações de diversos níveis possam ter acesso e eficácia para que seja sustentável auxiliando no gerenciamento de custo do sistema de saúde.
Nesta versão 1.0 da telemedicina ainda temos uma dependência grande em relação a história clínica e antecedentes pessoais/familiares. O exame físico ainda é sucinto, temos disponibilidade de poucos aparelhos para a realização do exame físico virtual. Na prática dos exames ocupacionais, devido a avaliação de uma população em sua maioria sem queixas, o exame físico tem um papel muito importante no atendimento para detecção precoce de doenças. Apesar que, na realidade, eventualmente, observamos que alguns profissionais não dão a devida valorização ao exame físico dos trabalhadores como deveria ser dado.
Enquanto ainda não tivermos instrumentos de avaliação a distância que nos permitam uma avaliação do exame físico, uma alternativa seria a adoção de um modelo híbrido. Ele seria organizado com a aplicação de questionário de queixas e antecedentes com uso de sistemas informatizados programados para a utilização de questionários padronizados na literatura. O segundo passo seria a realização de um exame físico presencial. Seguido da conclusão da avaliação através de teleconsulta para análise dos exames complementares (se pertinentes a função) e orientação do trabalhador. O atestado de saúde ocupacional seria formalizado através de meio eletrônico com uso de tecnologia de certificação e o empregado daria a confirmação do recebimento das orientações e cópia da avaliação e/ou exames por e-mail. Com isso conseguiríamos, diminuir o tempo de exposição da equipe de saúde e evitar aglomerações em recepções de ambulatórios ou clínicas.
Outra vantagem que este novo modelo híbrido pode trazer as empresas é que facilitaria a gestão dos dados de saúde dos empregados e auxiliaria na adaptação das novas mudanças de legislação previstas na NR-7 e implementação do GRO.
A criação de grupos de estudo para pesquisa de novas interfaces de relacionamento com o trabalhador e os impactos positivos e negativos é de grande importância para a evolução e aprimoramentos do modelo.