Como a formação em ergonomia pode contribuir na boa prática do médico do trabalho

Conceitualmente a ergonomia é o conjunto de ciência e tecnologia que procura o ajuste confortável e produtivo entre o ser humano e o seu trabalho, ou seja, resume-se basicamente em adaptar o trabalho às características do ser humano.

A formação em ergonomia me fez perceber que esse tema está muito mais presente no cotidiano do médico do trabalho do que simplesmente cumprir os parâmetros estabelecidos pela Norma Regulamentadora Nº17 (NR17). Ter o conhecimento dos conceitos de ergonomia possibilitou uma atuação muito mais incisiva na prevenção de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, propiciar um maior conforto e uma melhor adaptação dos trabalhadores em seus postos de trabalho.

Saber interpretar uma análise ergonômica do trabalho (AET) e ter em mente os cinco conceitos básicos da ergonomia (força; postura; repetitividade; vibração e compressão mecânica de partes moles), possibilita que o médico do trabalho atue de forma ativa na identificação de postos de trabalho que possuem situações críticas capazes de gerar lesões nas estruturas músculo-ligamentares de seus trabalhadores.

Segundo Hudson de Araújo Couto, cerca de 32% à 41% dos acidentes de trabalho ocorrem em razão de más condições de trabalho. Esses números tornam evidente a importância da ergonomia, pois, a adaptação do trabalho às condições do ser humano visando a produção de bens em um ambiente com conforto e segurança, possibilita a prevenção de lombalgias, Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e acidentes de trabalho.

Outro ponto importante em ter a formação em ergonomia é permitir que o médico atue de forma mais assertiva e bem embasada tecnicamente no momento de remanejar os funcionários que já possuem lesão e/ou limitação funcional para trabalhar em postos adequados conforme suas restrições. Dessa forma, garante ao trabalhador conforto e a segurança de que suas lesões não serão agravadas em virtude de suas atividades laborais.

Ao reduzir o número de acidentes e de doenças ocupacionais, e ao remanejar os funcionários com redução da sua capacidade laborativa para atuar em postos compatíveis, possibilita que o médico do trabalho, mesmo que indiretamente, atue na redução do passivo trabalhista das empresas.

Com a constante evolução da Medicina do Trabalho os profissionais dessa área, cada vez mais, precisam da ergonomia como sua aliada. Seus conceitos auxiliam o médico na prevenção de doenças e acidentes do trabalho, na gestão e realocação de funcionários com limitação funcional, e até mesmo na redução do passivo trabalhista das empresas.

(Os artigos publicados refletem a opinião do autor)

Dr João Meneses Andrade Prior Cidale

Formado pela Faculdade de Medicina de Santos (FCMS). Pós graduação em Medicina Legal e Perícias Médicas pela Santa Casa de São Paulo. Pós graduação em Medicina do Trabalho pela Santa Casa de São Paulo. Médico do Trabalho da Chevron Oronite. Médico do Trabalho da Cabot Corp. Ergonomista. Médico Perito na área Trabalhista. Assistente Técnico em processos trabalhistas e cíveis. Diretor da empresa WES Ergonomia e Saúde Ocupacional.

Referências:
COUTO, H. A., et al. Gerenciando a Ler e os DORT, nos tempos atuais. Belo Horizonte: Ergo, 2007.
COUTO, H. de A. Ergonomia aplicada ao trabalho: manual técnico da máquina humana. Vol. I e II. Belo Horizonte: Ergo Editora, 1995/96.
COUTO, H. A., et al. Um novo olhar na prevenção de acidentes de trabalho. Belo Horizonte: Ergo, 2017.
ARAUJO JUNIOR, Francisco Milton. Doença ocupacional e acidente de trabalho. São Paulo: LTR Editora, 2009.
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. São Paulo: LTR Editora, 4a. Ed., 2008.

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