A Medicina do Trabalho dirige seu olhar para o uso da tecnologia no trabalho e na vida pessoal

Cada vez mais a tecnologia invade a rotina das pessoas, seja no seu cotidiano ou nos locais de trabalho. Notebooks, smartphones, tablets se tornaram ferramentas imprescindíveis no mundo moderno. O ser humano se adaptou às facilidades da tecnologia, mas não percebeu que sua visão não estava preparada para tanta demanda. Cada vez mais observamos pacientes com queixas oftalmológicas comuns – sensação de corpo estranho, fotofobia, intolerância à luz e olhos vermelhos, muitas delas relacionadas ao esforço contínuo da visão. A visão não foi criada para encarar uma tela de computador durante muitas horas. Qualquer pessoa que passa mais de três horas por dia em um computador está em risco de desenvolver os sintomas acima descritos.

O tema, por sua atualidade e importância possui características específicas, e fomos ouvir o especialista em Oftalmologia, Prof. Dr. Eduardo Costa Sá, diretor científico da APMT que defendeu o seu doutoramento em dezembro de 2016 pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, quando estudou aspectos das suas duas especialidades médicas: Oftalmologia e Medicina do Trabalho. O objetivo do trabalho foi analisar os sintomas da Síndrome da Visão do Computador (CVS) e os fatores associados à função visual entre os trabalhadores, de ambos os sexos, usuários de computador em função administrativa, do prédio da administração de um hospital público universitário terciário de São Paulo.

Assim como na Medicina em geral, a Oftalmologia tem sentido a necessidade de direcionar a sua atenção aos problemas da visão causados pelo e no trabalho, o que podemos denominar de Oftalmologia Ocupacional. A Associação Americana de Optometria (AOA) define a síndrome visual do computador, também conhecida pela sua denominação em inglês de “Computer Vision Syndrome” (CVS), como uma síndrome resultante de problemas oculares e visuais, relacionada ao uso do computador no trabalho ou não. Na maioria dos casos, os sintomas ocorrem porque as exigências visuais da tarefa excedem as capacidades visuais do indivíduo para executá-la de forma confortável.

Segundo o Doutor Eduardo, “os distúrbios oculares relacionados ao uso do computador são aqueles que vêm sendo mais estudados por sua alta prevalência mundial, e por serem cada vez mais frequentes em determinadas profissões, como os usuários de computador. A pesquisa realizada em seu doutorado, demonstrou que os sintomas mais frequentes foram: “cansaço nas vistas no trabalho” (47,9%), “peso nos olhos no trabalho” (38,3%) e “cansaço nas vistas em casa” (36,3%). O que confirma a informação de que cada vez mais usamos os computadores, smartfones e tablets não só em atividades laborais, mas também no lazer. Entre os agravos mais prevalentes estiveram: a presbiopia (66,3%) e o astigmatismo (47,9%). Ainda foi encontrada associação entre a idade e o esforço no trabalho com a função visual. Em relação ao esforço no trabalho, os itens que apareceram como principais fontes de estresse foram: “interrupções no trabalho” (3,7%), “trabalho depois da hora” (3,6%) e aumento da exigência (3,6%). Então, concluíram pela importância da organização do trabalho, dos fatores psicossociais no trabalho associados à presença de sintomas da CVS e, consequentemente, às alterações da função visual nos trabalhadores usuários de computador, conclui”.

A preocupação com as repercussões do trabalho sobre a visão tem crescido nos últimos anos. Exemplo disso foi a criação de um comitê científico específico, pela Comissão Internacional de Saúde Ocupacional (ICOH – International Commission on Occupational Health), denominado Comitê Trabalho e Visão (ICOH/ ICWV – International Scientific Committee on Work and Vision). A proposta do documento elaborado por este comitê é de que os distúrbios oculares relacionados ao trabalho têm origem multifatorial, podendo estar associados à atividade de trabalho, às condições ambientais e às características oftalmológicas individuais. A indicação é que sejam adotadas medidas para melhorar as condições do ambiente de trabalho e a realização de exames oftalmológicos, incluídos nas avaliações periódicas para a categoria de trabalhadores que utilizam os computadores na sua jornada.

Prof. Dr. Eduardo Costa Sá é Doutor e Mestre em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP), com área de concentração em Saúde Ambiental e Linha de Pesquisa em Saúde do Trabalhador. Possui Especialização e Título de Especialista em Medicina do Trabalho, pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), em Medicina Legal e Perícia Médica pela Associação Brasileira em Medicina Legal e Perícia Médica (ABMLPM) e em Oftalmologia pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Professor dos cursos de especialização em Medicina do Trabalho e Medicina Legal/Perícia Médica da FMUSP e da FCMSCSP. Perito Médico Previdenciário concursado do Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), desde 2006.

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