Agosto Lilás: um mês dedicado ao enfrentamento à violência contra a mulher.

Se você é médico ou médica do trabalho e nos últimos meses não se deparou com nenhum caso de violência contra a mulher na empresa onde atua, arrisco dizer que, das duas uma, ou o efetivo é composto 100% por homens ou nenhuma mulher teve a coragem de buscar ajuda no serviço de saúde ocupacional!

 

No Brasil, segundo dados do 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, disponível no site do Instituto Patricia Galvão, a cada hora, 26 mulheres sofrem agressão física no país.

A Rede de Observatórios da Segurança, que monitora diariamente o que circula nas redes sociais e nos meios de comunicação sobre violência e segurança, demonstra que 01 mulher é agredida a cada 04 horas.

 

A Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (PCSVDFMulher), promovida pela Universidade Federal do Ceará, em parceria com o Instituto Maria da Penha e com o Instituto de Estudos Avançados de Toulouse – França, publicada em 2019, fez uma análise com base no salário médio das mulheres e contabilizaram a perda de 975 milhões de reais de renda anual por causa do absentismo de mulheres que sofrem violência. Mapearam que funcionárias vítimas de violência doméstica faltam ao trabalho, em média, 18 dias por ano.

 

A mulher que vivencia a violência doméstica, ou mesmo violência no ambiente de trabalho, seja de qual natureza for, nem sempre consegue buscar ajuda de forma direta. Seu pedido de socorro, muitas vezes, vem em forma de faltas, baixo rendimento, idas frequentes ao ambulatório médico ou mesmo um adoecimento emocional, como um quadro de ansiedade ou depressão.

 

Sinais como a diminuição da autoestima, maiores índices de estresse, dificuldades para dormir, dificuldades em fazer novos vínculos e manter os vínculos anteriores, diminuição do autocuidado, dificuldade em criar projetos para o futuro e ter metas podem ser um alerta de que algo esteja acontecendo.

 

O Agosto Lilás, é uma campanha de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher. Criada em 2016, no Mato Grosso do Sul por meio da Lei Estadual nº 4.969/2016, em 2022 passou a ter alcance nacional e este ano terá como slogan uma forte chamada: “Violência contra a mulher. Ignorar faz de você cúmplice desse crime”.

 

A campanha tem por objetivo intensificar a divulgação da Lei Maria da Penha, sensibilizar e conscientizar a sociedade sobre o, mais que, necessário fim da violência contra a mulher, divulgar os serviços especializados da rede de atendimento à mulher em situação de violência e os canais de denúncia existentes.

 

A violência contra a mulher possui diversas formas além das agressões físicas, como a violência psicológica, violência patrimonial, violência sexual e a violência moral. Nem sempre são perceptíveis, mas ferem profundamente a autoestima e a dignidade das vítimas, tanto quanto a violência física.

 

Ao perceber que algo não está bem, o médico ou a médica do trabalho podem, por meio de uma conversa cuidadosa, acolhedora e empática, identificar se uma funcionária está em situação de violência, garantir o sigilo e ajudá-la a buscar ajuda especializada.

 

De acordo Oliveira, 2017, “cuidar do bem-estar das pessoas é função primária para a organização e esse bem-estar envolve saúde, benefícios, treinamento e desenvolvimento, qualidade de vida entre outros”, com isso a atenção com as questões relacionadas ao enfrentamento à violência contra a mulher fazem parte deste cuidado integral.

 

Além de promoverem a campanha ao longo do mês, as empresas podem atuar implantando um Canal de Acolhimento como parte de um Programa Estruturado de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, que forneça acolhimento, orientação e encaminhamento especializado. Nestes casos a ajuda psicológica é essencial.

 

A empresa, pode ainda, difundir informações sobre o que é e quais são os tipos de violência, por meio de e-books e cartilhas, ajudando a mulher a identificar situações potencialmente perigosas, bem como atuar na conscientização dos homens, gerando um processo de desconstrução da cultura machista que naturaliza e autoriza a violência contra mulher.

 

Rodas de conversa e treinamentos especializados para as lideranças com o objetivo de conseguirem identificar, acolher e direcionar os casos ao serviço de saúde da empresa, também são bastante efetivos na conscientização e disseminação do tema.

 

Recomendo também que seja divulgado o Ligue 180 da Central de Atendimento à Mulher. O serviço funciona todos os dias, 24h, e realiza escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência. Além de registrar e encaminhar as denúncias de violência aos órgãos competentes, também fornece informações sobre os direitos da mulher e os locais de atendimento mais próximos e apropriados para cada caso como a Casa da Mulher Brasileira, Centros de Referências, Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam), Defensorias Públicas, Núcleos Integrados de Atendimento às Mulheres, entre outros.

 

 

Referências

 

https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia-em-dados/a-cada-hora-26-mulheres-sofrem-agressao-fisica-no-pais/

Acesso em: 01/08/2023

 

https://www.gov.br/pt-br/servicos/denunciar-e-buscar-ajuda-a-vitimas-de-violencia-contra-mulheres

Acesso em: 01/08/2023

 

GOMES, F. P.; TORTATO, U. Adoção de práticas de sustentabilidade como vantagem competitiva: evidências empíricas. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração. v. 5, n. 2, 2011, p. 33-49

https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/lei-maria-da-penha-na-integra-e-comentada.html

Acesso em: 01/08/2023

 

http://observatorioseguranca.com.br/violencia-mulher-feminicidio/

Acesso em: 01/08/2023

 

OLIVEIRA, T. S. P.; KUBO, E. K. M.; SANTOS, I. C.; LIMA, D. F. Práticas de gestão de pessoas voltadas à responsabilidade social empresarial. Anais do XX Semead – Seminários em Administração. São Paulo: USP, 2017.

 

INSTITUTO MARIA DA PENHA. Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (PCSVDFMulher), 2019 – disponível em: https://www.institutomariadapenha.org.br/projetos/pesquisa-pcsvdfmulher.html

Acesso em: 01/08/2023

 

RIBEIRO, R. K. O papel da empresa no combate à violência contra a mulher. Dissertação de Mestrado, São Paulo, 2022 – disponível em: http://bibliotecatede.uninove.br/handle/tede/3103

Acesso em 01/08/2023

 

 

Fátima Macedo

Psicóloga especialista em Saúde Mental no Trabalho, CEO da Mental Clean, empresa pioneira em Saúde Mental no Trabalho e Programas de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, Membro do Conselho da Associação Brasileira de Qualidade de Vida no Trabalho, Membro do Conselho do Instituto Janeiro Branco e Coordenadora da Área de Pessoas do Grupo Mulheres do Brasil.

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