Considerações sobre “O papel do Médico do Trabalho como Gestor de Saúde”

Relato da experiência em pesquisa: Dr. Alexandre Queiroz Considerações sobre o papel do médico do trabalho como gestor de saúde

O que me motivou a pesquisar sobre o tema foram alguns pontos que observei durante o meu período de estudante da especialização e integralmente atuando na profissão. O primeiro ponto diz respeito a constante evolução da Medicina do Trabalho, desde sua concepção industrial até a abordagem corporativa, que incorpora os conceitos de gestão dentro do seu escopo de atuação. Tal integração pode ser vista em orientações dadas por instituições de caráter científico e profissional como o “Guia de competências essenciais requeridas para o exercício da Medicina do Trabalho” elaborado pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT). Incluo nessa lista alguns ‘guidelines’ de instituições internacionais como do American College of Occupational and Medicine (ACOEM) e do World Health Organization European Centre for Environment and Health. O Segundo ponto vem da própria mudança do olhar da Medicina do Trabalho, anteriormente focada somente na prevenção de Acidentes de Trabalho e Doenças Ocupacionais, para a prevenção de Doenças Crônicas (e seus eventos adversos) e a Promoção de Saúde (a nível individual e coletivo). E o terceiro, pela questão de a gestão em saúde ser uma competência necessária para o entendimento pleno de como o setor Saúde se estabelece dentro da empresa e de como se relaciona com os demais setores (dentro e fora dela).

Os resultados que obtive foram, primeiramente, a percepção de que para exercer a Medicina do Trabalho de forma integral, os conceitos de gestão devem fazer parte da estratégia de atuação, tanto a nível operacional (médicos examinadores e médicos do trabalho, que atuem realizando exames ocupacionais, devem alimentar o sistema de dados com informações de saúde confiáveis), como em nível gerencial (para análise de indicadores e posterior tomada de decisões corporativas). Para isso, deve-se ter um ótimo sistema de informações de saúde que permita a formação de banco de dados, permitindo ampliar a visão do médico gestor sobre a saúde populacional da empresa. Além disso, a capacitação técnica do Médico do Trabalho deve ser contínua, pois além da necessidade de possuir habilidade para o uso de tais ferramentas de gestão (incluindo o PCMSO), outras competências são necessárias como capacidade de um bom relacionamento corporativo e demonstrar um papel de liderança e mediação com os setores.

Saber o papel do Médico do Trabalho como Gestor de Saúde me ajudou a ter um outro olhar, principalmente na questão sobre o PCMSO, que passou de apenas um item obrigatório legalmente, para uma excelente ferramenta de gestão a ser utilizada com sabedoria. Utilizar o sistema de saúde, não apenas como prontuário eletrônico e registro de informações de saúde, mas também como um instrumento de coleta de dados populacionais. Desenvolvi melhor minha capacidade analítica de identificar os problemas relacionados ao setor de saúde, resolvê-los de forma técnica e precisa e, em muitos casos, antecipar-me ao aparecimento deles. Além disso, ter habilidades administrativas torna mais fácil o entendimento de questões administrativas relacionadas ao setor saúde (saúde ocupacional, populacional e suplementar), o feedback junto aos outros setores e a tomada de decisão gerencial. Entretanto, em empresas que o nível de maturidade de Medicina do Trabalho e da cultura de Segurança do Trabalho é baixo, fica mais difícil atuar, pois há diversos obstáculos que dificultam o médico a exercer de forma plena o exercício da profissão (resistência a mudança, falta de capacitação técnica dos outros profissionais, falta de cooperação e alinhamento de ideias entre os setores, seguimento apenas daquilo que é legal e obrigatório, em detrimento daquilo que é necessário e otimizador). Mas em empresas que evoluíram na maturidade de gestão em saúde e superaram essas questões, a presença do Médico do Trabalho hoje é indiscutível, e seu papel como gestor é reconhecido como essencial, se tornando peça fundamental para o adequado funcionamento do setor saúde na empresa.

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