Bernardino Ramazzini, um médico, professor e pesquisador italiano do século XVII, deixou uma
marca indelével na história da medicina do trabalho. Seu nome é reverenciado como o “pai da
medicina do trabalho”, e seu trabalho pioneiro lançou as bases para o campo da saúde
ocupacional como o conhecemos hoje.
Ramazzini não apenas identificou e documentou as doenças relacionadas ao trabalho, mas
também traçou um caminho para a prevenção dessas enfermidades. Em uma época em que a
saúde dos trabalhadores era largamente negligenciada, suas pesquisas desafiaram a inércia e a
falta de conscientização.
Um aspecto notável do trabalho de Ramazzini é a sua abordagem abrangente. Ele não se limitou
a uma única ocupação ou indústria, mas explorou 52 ocupações diferentes, destacando os riscos
à saúde que os trabalhadores enfrentavam em diversas profissões. Esse olhar amplo e minucioso
permitiu que suas descobertas fossem aplicadas em várias áreas de trabalho.
Sua influência transcendeu gerações, e seu trabalho continua a ser uma fonte de inspiração para
médicos do trabalho e profissionais de saúde ocupacional em todo o mundo. Seu legado é uma
lembrança constante da importância de proteger a saúde dos trabalhadores e de prevenir
doenças e acidentes ocupacionais. O Dia do Médico do Trabalho em 4 de outubro é uma
homenagem justa a esse gigante da medicina, cuja dedicação e visão moldaram o campo da
saúde ocupacional.
Mas… como estamos na medicina do trabalho no Brasil em comparação ao século XVII?
Elencamos algumas semelhanças e diferenças ao longo do texto.
A comparação entre a medicina do trabalho na época de Bernardino Ramazzini e na atualidade,
especialmente no contexto brasileiro, revela avanços significativos na proteção da saúde dos
trabalhadores e na prevenção de doenças e acidentes ocupacionais.
Na época de Ramazzini, havia uma escassez de conhecimento significativo sobre as doenças
relacionadas ao trabalho. Sua obra pioneira “As Doenças dos Trabalhadores” representou um
dos primeiros esforços documentados para compreender e abordar essas questões.
No século XVII não havia regulamentações governamentais ou leis que protegessem os
trabalhadores em relação às condições de trabalho. Os cuidados com a saúde dos trabalhadores
eram praticamente inexistentes, e as condições de trabalho frequentemente eram perigosas e
insalubres.
Ramazzini baseou suas conclusões em observações empíricas, entrevistando trabalhadores e
documentando os efeitos adversos das ocupações em sua saúde. Não havia métodos científicos
avançados de pesquisa. Longo caminho percorreu os estudos deste pesquisador incansável.
Em terras brasilis, nascia em 1944 a ANAMT e em 1989 a SPMT, hoje APMT, e sabidamente, a
medicina do trabalho no Brasil e em todo o mundo se beneficia de décadas de pesquisa e
avanços científicos. Há um entendimento muito mais abrangente das doenças ocupacionais e
dos fatores que as causam.
O Brasil possui regulamentações rigorosas de segurança e saúde ocupacional, incluindo a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e normas regulamentadoras (NRs) emitidas pelo
Ministério do Trabalho e Emprego, que estabelecem padrões de segurança no local de trabalho,
exames médicos obrigatórios e requisitos para a prevenção de acidentes e doenças.Os médicos do trabalho contemporâneos têm acesso a tecnologias avançadas de diagnóstico e
métodos de pesquisa, permitindo uma identificação mais precisa de riscos ocupacionais e uma
abordagem mais eficaz na prevenção e tratamento de doenças relacionadas ao trabalho. A
tecnologia trouxe também mais possibilidades de atuação da especialidade, percebida
principalmente durante a pandemia da COVID-19 e paulatinamente incorporada à prática diária,
como telemonitoramento, sistemas informáticos mais robustos, apps.
A formação de médicos do trabalho e profissionais de saúde ocupacional é altamente
especializada e baseada em evidências científicas. Além disso, existem programas de educação
continuada para manter os profissionais atualizados sobre as melhores práticas. Nesse sentido,
o médico do trabalho encontra em “Competências essenciais requeridas para o exercício da
Medicina do Trabalho – Atualização – 2018”, diretrizes para o bom desempenho da função.
Houve um aumento na conscientização sobre segurança e saúde no trabalho, tanto por parte
dos empregadores quanto dos trabalhadores. A cultura de segurança está se tornando uma
parte fundamental da gestão empresarial.
E segundo a AMB, em 2022 os 20.804 médicos do trabalho representavam 4,2% dos registros
de título de especialista em medicina do trabalho, pareando com as especialidades de Ortopedia
e Cardiologia e galgando o 7º lugar no ranking de especialidades médicas no país.
Enfim, tudo isso nos faz refletir que a medicina do trabalho na época de Bernardino Ramazzini
era incipiente e carente de conhecimento e regulamentação. Hoje, no Brasil e em muitos outros
lugares, a medicina do trabalho é uma disciplina madura e altamente regulamentada, focada na
prevenção de doenças ocupacionais, na promoção da saúde dos trabalhadores e com excelentes
perspectivas de atuação e crescimento. Desafios como a adaptação às mudanças do mercado
de trabalho e a contínua busca por ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis hão de
persistir, mas como Ramazzini há mais de 300 anos, vamos insistir e deixar um legado perene
para o mundo laboral. Feliz dia do Médico do Trabalho.
Referências:
1.AMB. Associação Médica Brasileira. Demografia Médica no Brasil 2023 – São Paulo, SP, 2023.
2.ANAMT. Associação Nacional de Medicina do Trabalho. Competências essenciais requeridas
para o exercício da medicina do trabalho: revisão 2018 – São Paulo, SP, 2018.
3.APMT. Associação Paulista de Medicina do Trabalho. Linha do Tempo (1989 – 2020) – São
Paulo, SP, 2020.
Élide Cervantes possui título de especialista em Medicina do trabalho, certificação PMP e tem formação anterior como tecnóloga em processamento de dados. MBA em Qualidade pela USP e gestão integrada pela Santa Casa de São Paulo. É médica analista em dados de saúde populacional e suplementar, atua em inovação, inteligência artificial e eficência digital para área da saúde. Na saúde pública é médica reguladora em Guarulhos. Experiência em projetos multiculturais locais e remotos em empresas como VW, Mercedes-Benz, T-Systems, RHMed, Zetta Health Analytics. Membro da Diretoria de Comunicação da APMT.