Dia Mundial Sem Tabaco 2023: “Precisamos de comida, não de tabaco”
O Dia Mundial de Combate ao Tabagismo é uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) celebrada anualmente em 31 de maio. A data tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre os perigos do tabagismo e promover ações para reduzir o consumo de tabaco em todo o mundo.
O tema deste ano é “Precisamos de comida, não de tabaco“. A campanha global de 2023 visa aumentar a conscientização sobre alternativas de produção agrícola para os produtores de tabaco e incentivá-los a cultivar culturas sustentáveis e nutritivas. Também terá como objetivo expor os esforços da indústria do tabaco para interferir nas tentativas de substituir a cultura do tabaco por culturas sustentáveis, contribuindo assim para a crise alimentar global.
Um olhar sobre a produção do tabaco revela como ela contribui ao aumento da insegurança alimentar. Em todo o mundo, cerca de 3,5 milhões de hectares de terra são convertidos para o cultivo de tabaco a cada ano. O cultivo de tabaco também contribui para a desmatamento de 200 000 hectares por ano.
O plantio do tabaco requer uso intensivo de pesticidas e fertilizantes, que contribuem para a degradação do solo. A terra usada para o cultivo de tabaco tem então uma menor capacidade de cultivo de outras culturas, como alimentos, uma vez que o tabaco esgota a fertilidade do solo.
Em comparação com outras atividades agrícolas, como o cultivo de milho e até mesmo o pastoreio de gado, a cultura do tabaco tem um impacto muito mais destrutivo nos ecossistemas, já que as terras agrícolas de tabaco são mais propensas à desertificação.
E como foco desse artigo, nós como médicos do trabalho devemos ter o conhecimento que o manejo intensivo de inseticidas e produtos químicos tóxicos durante o cultivo do tabaco contribui para o adoecimento de muitos agricultores e suas famílias. Uma pesquisa realizada pela Área de Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho e ao Ambiente do Instituto Nacional de Câncer em um município fumicultor verificou que 63% dos fumicultores relataram manipular agrotóxicos diretamente. Foram 54 produtos citados como de uso frequente, sendo os principais o Glifosato, herbicida largamente usado no Brasil para “capina química” e vários inseticidas organofosforados, estes sabidamente neurotóxicos, dentre outras consequências à saúde.
Outro ponto de destaque que quero deixar para os médicos do trabalho é uma atenção especial que devemos ter em nossas empresas, para o consumo dos cigarros eletrônicos, principalmente pelos jovens. Uma das principais razões pelas quais os cigarros eletrônicos ganharam popularidade é a falsa percepção de que eles podem ser uma opção menos prejudicial à saúde do que o tabaco convencional e também por não ter o mesmo cheiro e fumaça que o cigarro normal.
Para conhecimento de todos, em média, um cigarro comum oferece 15 tragadas. Um maço teria, então, 300 tragadas. Logo, um vaporizador de 1,5 mil tragadas seria equivalente a cinco maços. Mas a comparação não é tão simples assim, porque um cigarro comum, no Brasil, tem no máximo um miligrama de nicotina. Isso é regulamentado pela Anvisa. E os diversos tipos de cigarros eletrônicos, como não são fiscalizados, podem entregar muito mais nicotina.
Os governos e autoridades de saúde estão trabalhando para regulamentar o uso dos cigarros eletrônicos e conscientizar sobre os riscos associados a eles. Alguns países impuseram restrições à venda e publicidade de cigarros eletrônicos, especialmente direcionadas a jovens.
É muito importante que os usuários estejam cientes desses riscos e que os órgãos reguladores estabeleçam medidas adequadas para proteger a saúde pública, especialmente entre os jovens.
Escrito por Dr. Luis Augusto Sales Lima Pilan, Médico do Trabalho.
Referências:
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