Entrevista com Infectologista

1 – Quais os requisitos a serem considerados quando se opta pela melhor forma de isolamento? Considerando as particularidades do Estado de São Paulo, qual seria a melhor forma de isolamento neste momento?
O momento em que passamos pela pandemia é o principal requisito a ser considerado na definição do tipo de isolamento a ser adotado. No momento em que estamos, com ascensão do número de casos, o isolamento adequado é o chamado isolamento horizontal, procurando manter o máximo possível de pessoas afastadas de aglomerações e evitando deslocamentos considerados desnecessários, pois há muita circulação de vírus entre as pessoas, mesmo as assintomáticas, o que torna parques, shoppings, lojas e outros estabelecimentos, caso estejam repletos de pessoas, verdadeiros centros de contágio e transmissão de vírus. O Estado de São Paulo, por ser tão populoso, deve manter o isolamento horizontal o máximo de tempo possível, por mais conscientes que estejamos das dificuldades e limitações em fazê-lo em situações aonde as pessoas vivam em condições de vulnerabilidade e das dificuldades econômicas de subsistência que surgirão a cada dia.

2 – Poderia esclarecer as diferenças entre Influenza e COVID-19? (Considerando a transmissão, letalidade e mortalidade, grupos risco e infectabilidade)
Influenza é a doença causada pelo vírus Influenza. Existem vários tipos de vírus influenza. A gripe comum e o H1N1 são os mais conhecidos e representam o maior número de casos e de óbitos quando se fala neles. O Influenza em geral tem quadro clínico mais rápido, com sintomas respiratórios em poucos dias, febre desde o início dos sintomas, menor potencial de transmissibilidade do que o coronavírus e menor taxa de letalidade. Idosos, gestantes e pessoas com imunodeficiências constituem alguns dos principais grupos de risco, assim como profissionais de saúde, professores da rede de ensino e indígenas. COVID-19 é uma infecção nova, com maior taxa de transmissibilidade e maior letalidade do que o influenza, sobretudo em idosos acima de 60 anos, caracterizando-se por um quadro clínico mais arrastado, podendo apresentar febre após alguns dias de início dos sintomas, sendo a principal preocupação atual as complicações respiratórias, com falta de ar e dificuldade para respirar, levando a um quadro de insuficiência respiratória muitas vezes grave e de rápida evolução desfavorável. A mortalidade tem oscilado em torno de menos de 1% em pessoas adultas jovens, mas chegando a mais de 15% em idosos acima de 70 anos, como se observou na Itália e em outros países. Influenza tem vacina e tratamento específico das formas mais graves. A COVID-19 ainda não tem nenhum dos dois.

3 – Qual a conduta indicada em caso de trabalhador positivo para Covid-19, considerando o próprio trabalhador e para seus colegas de trabalho?
O trabalhado com exame positivo para COVID-19 deve ser afastado imediatamente de suas atividades e permanecer em repouso e isolamento social por no mínimo 14 dias a partir da data do início dos sintomas, que é o tempo em que a maioria dos pacientes param de apresentar sintomas respiratórios. Em casa deverão utilizar máscaras e manter a distância mínima de 2 metros das demais pessoas do ambiente, não sair de casa e manter-se em ambiente preferencialmente bem ventilado e com uso de talheres, pratos, copos e outros utensílios pessoais exclusivos para si. Estas medidas são importantes para evitar a contaminação tanto de outros colaboradores no ambiente de trabalho quanto de seus familiares no ambiente do lar.

4 – Há indicação do uso de cloroquina contra a Covid-19? E da vitamina D?
A cloroquina e a hidroxicloroquina estão sendo indicadas para os pacientes mais críticos, mais graves, com COVID-19. Mas existem ainda muitos estudos em andamento que poderão validar melhor o seu uso tanto para este perfil de pacientes quanto para casos menos graves. Até o presente momento o Ministério da Saúde autorizou o uso da medicação somente para situações de pacientes críticos, no entanto o médico tem autonomia para sua prescrição. Em relação à vitamina D não há nenhuma referência científica até o presente momento que valide seu uso nesta situação.

5 – Qual a diferença entre Síndrome Gripal e sintomas respiratórios leves, e qual tempo de afastamento indicado para cada situação?
A síndrome gripal se apresenta como febre, dor de cabeça, dor muscular e sintomas respiratórios leves, muitas vezes sem a necessidade de internação. Quando esta síndrome gripal vem acompanhada de desconforto respiratório (como falta de ar, dispnéia ou queda da saturação de oxigênio), consideramos o quadro como síndrome respiratória aguda grave (SRAG), nesta sim estando indicada a internação hospitalar. Muitos resfriados, que não são nem gripe e nem COVID-19, se apresentam com sintomas respiratórios leves e sem febre, não requerendo antibióticos, internação ou nenhuma medida mais específica, apenas repouso, hidratação e sintomáticos. O problema atual é que com esta nova doença inserida na população, muitos pacientes podem se apresentar com poucos sintomas, ficando difícil a exclusão do COVID-19 sem que se tenha como fazer um exame específico para tal. Por isso entendemos que o ideal seria testar a maior parte possível da população, todavia diante da indisponibilidade de se ter exames para todos, se prioriza a realização naqueles que estejam mais graves, que serão internados. Em geral o afastamento para síndromes gripais e resfriados comuns dificilmente ultrapassa os sete dias a partir do início dos sintomas, enquanto o afastamento por suspeita de COVID-19 é preconizado de 14 dias a partir do início dos sintomas.

6 – Qual o papel do teste rápido e do PCR frente ao Covid-19?
Basicamente existem dois testes mais utilizados para o diagnóstico de COVID-19, entre uma série de exames existentes. O que está sendo feito nos pacientes internados é o chamado PCR, ou teste de biologia molecular, que identifica fragmentos do vírus, por isso sendo útil na detecção da doença na fase aguda, em pessoas infectadas. Os testes rápidos por sua vez detectam anticorpos contra o vírus no sangue de um indivíduo que tenha sido infectado pelo novo coronavírus. Ou seja, na fase inicial do quadro não são adequados, pois o indivíduo não teve tempo de formar seus anticorpos, o que acontecerá no mínimo após uma semana de exposição ao vírus. Os testes rápidos portanto serão úteis para identificarmos as pessoas que já tiveram contato com o novo coronavírus, o que pode ser de grande valia para, por exemplo, aprimorar as medidas de isolamento social seletivo ou mesmo possibilitar a coleta de plasma de indivíduos previamente infectados e curados para aplicação em pacientes graves com o objetivo de atenuar ou limitar a progressão da doença.

Mini curriculum:
Dr.Rodrigo Contrera do Rio.
Médico Clínico e Infectologista
Graduado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Residência Médica em Clínica Médica pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Especialização em Infectologia pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Título de Especialista em Infectologia pela Sociedade Brasileira de Infectologia. Pós-Graduação MBA em Administração Hospitalar pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Atualmente Médico Infectologista Efetivo do Instituto de Infectologia Emílio Ribas-SP, Professor Instrutor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Médico do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Hospital Santa Isabel-SP.

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