O médico do trabalho no Plano de Atendimento a Emergência

Tantos acontecimentos trágicos marcaram o início deste ano, que nos faz acreditar que iniciamos logo pelo mês de agosto, mundialmente conhecido pela sua má fama dado a acontecimentos históricos desta época do ano.

Na investigação destes acidentes nos deparamos constantemente com situações improvisadas, alertas negligenciados, laudos que servem apenas para mero cumprimento formal. Muitos laudos que por vezes habilitam a continuidade das ocorrências, já que de fato não são plenamente executados ou não contemplam o total das ações necessárias. Muitas vezes determinados por influência de fatores relacionados a tomada de decisão da alta liderança.

Da mesma forma, a participação do médico do trabalho dentro de um SESMT integrado participando ativamente tanto nas investigações de acidentes, que de forma mais banal levam a conclusões do tipo “ato inseguro”, quanto na elaboração dos Planos de Atendimento à Emergência (PAE), muitas vezes das quais ele não participa e possui papel fundamental no desfecho de todo este planejamento.

Um PAE completo deve considerar o desenvolvimento do atendimento médico e primeiros socorros para todos os cenários previstos com potencial de dano ao indivíduo ou outras situações de emergência identificados por ele de forma integrada. Estas ações podem fazer parte de um novo documento como um Plano de Emergências Médicas (PEM ou PEMPS) ou como parte integrada, desde que contemple ações planejadas do atendimento inicial até a unidade de tratamento definitivo e garantia da melhoria contínua do processo.

Uma análise global das condições de contingenciamento da emergência médica e primeiros socorros deve ser executada avaliando as condições geoclimáticas, acessos aos serviços de saúde em diferentes níveis de complexidade e referenciais para as situações de emergência.  Assim, como dito anteriormente, todo plano de atendimento à emergência deve possuir um desdobramento de ações considerando todas as possibilidades de cenário possiveis.

Por isto, são elementos essenciais deste plano operacional:

  1. Existência de equipe qualificada e devidamente treinada para o atendimento inicial da vítima nos diferentes cenários;
  2. Meios de transporte rápido, eficaz e equipado para salvamento, estabilização e manutenção das condições vitais da vítima;
  3. Canais de comunicação exclusivos para a equipe da saúde permitindo o intercâmbio entre as unidades móveis e os centros de apoio;
  4. Instalações físicas de saúde preparadas para situações de urgência e emergência, estrategicamente posicionadas;
  5. Conhecimento da área de abrangência de atuação considerando os acessos e bloqueios;
  6. Estabelecimento de protocolos para a atendimento prevendo ações necessárias na tratativa de todas as lesões previstas;
  7. Hospitais de referência para tratamento definitivo.

Ainda na fase de planejamento, deve-se considerar a capacidade técnica dos hospitais que serão definidos como referencia para evacuação médica. O atendimento hospitalar às emergências deve ser sistematicamente avaliado quanto à capacidade técnica, conforme o grau de complexidade e considerada a rede hospitalar conveniada, disponíveis pelo SUS e sempre considerando a população terceirizada.

Deve-se ter acesso fácil aos contatos também das unidades de apoio móveis governamentais, principais autoridades públicas demandadas pelo programa. Ex.: Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Instituto de Criminalística, Polícia Civil, Vigilância Sanitária e Epidemiológica. Emprega-se a lógica da regionalização e hierarquização da rede. Estes contatos, endereços devem estar visíseis, todos devem poder recuperar esta informação em questão de segundos. Plano de emergência não é documento de gaveta ou arquivo.

Após este mapeamento, a elaboração de uma tabela pode estar disposta e de fácil consulta na sala de emergência, em todas as ambulâncias e nos postos avançados de saúde contendo: Nome do estabelecimento, tipos de atendimentos prestados e referenciados, telefones de contatos, endereço, tempo e distância de deslocamento. Isto facilita o acesso a infomação em uma condição de grande estresse como um acidente com vítimas.

Em uma situação de emergência, o tempo é elemento crucial para um bom desfecho. Por isto, o cumprimento de chegada do primeiro atendimento ao local do evento deve ser o mais rápido possível e o tempo de transporte do paciente até o local apropriado de atendimento emergencial referenciado deve ser breve suficiente para que nas condições de transporte utilizadas, a manutenção das condições da vítima sejam apropriadas para a tratativa das possíveis lesões identificadas.

Se for aventada a hipótese de acidente com múltiplas vítimas ou catástrofes, as ações de resgate e atendimento devem possibilitar o salvamento do maior número possível de vítimas no menor tempo possível.

Considerando que os meios disponíveis normalmente são insuficientes para fazer frente a este tipo de evento, o plano de resposta deve prever o acionamento das instituições públicas, hospitais de referência e o apoio das empresas da proximidade conhecido também como plano de ajuda mútua.

Simulados para todas as situações previstas são fundamentais para testar o Plano e também possíveis condições não previstas e na manutenção do adequado contingenciamento.

Por fim, a vítima é o elemento central do atendimento da equipe e deve-se garantir o maior resguardo possível da sua privacidade e cuidado, mantendo esclarecidas as autoridades não médicas, o papel estabelecido para que não haja prejuízo à vítima decorrente de possíveis interferências.

O médico do trabalho ou médico encarregado deste papel não pode estar silencioso em nenhuma etapa deste processo. Deve ser protagonista e atuante.

Matéria por: Dr. Alexander Buarque

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Matérias Semelhantes:

Busque por período: