Prática em Saúde Mental – Covid-19

Práticas em saúde mental para as organizações no enfrentamento do COVID-19

 

A saúde mental em meio à pandemia pela COVID19 vem ganhando destaque. Diversos são os fatores causadores de estresse e ansiedade que comprometem as rotinas de vida e trabalho da população. Vivemos uma situação calamitosa dos serviços públicos de saúde, sofremos com a falta de um tratamento efetivo, bem como da vacina para o coronavírus e, diariamente, somos expostos a um excesso de informações divergentes a respeito das estatísticas sobre a doença. No campo político há conflitos de interesse acerca do assunto e falta até mesmo consenso nas informações médicas. Por ser uma doença nova e estarmos em curva de aprendizado rotineiramente as condutas, protocolos, leis e decretos são criados e/ou alterados.

Os trabalhadores e as pessoas em geral diante desse cenário de incertezas tão dinâmico e acelerado fazem emergir e/ou exacerbar o sentimento mais primitivo diante de uma ameaça real: o medo. Os principais fatores de ansiedade e estresse principalmente para os trabalhadores das áreas essenciais são:

  1. Falta de EPIs adequados
  2. Receio do trabalhador infectar-se e levar o vírus para casa
  3. Não ter acesso a exames e atendimento médico adequado na presença de sintomas
  4. Incertezas sobre o suporte da organização (inclusive para família) se o trabalhador ficar doente
  5. Acesso a cuidados para os filhos enquanto as creches e escolas estiverem fechadas
  6. Suporte para as necessidades pessoais e familiares (alimentação, higiene, transporte, etc)
  7. Acesso a informação atualizada e comunicação aberta

 

Além dos fatores acima citados e devido à crise econômica já instalada os conflitos de dinâmica do trabalho também estão exacerbados. Principalmente pelo receio da perda do emprego e, consequentemente, do sustento de suas famílias, muitos trabalhadores acionam o “modo sobrevivência” e acabam não externando suas dificuldades, angústias e até mesmo suas revoltas referentes a organização do trabalho, às custas de se manterem empregados, revelando assim um intenso sofrimento físico e mental silenciosos.

Diante de todo esse cenário é muito importante as organizações estarem atentas à essa dinâmica e a esses fatores estressores. Assim, é fundamental os empregadores tomarem as seguintes condutas:

– Seguir todas as recomendações de higiene e segurança no trabalho das autoridades competentes e esclarecer tais condutas informando claramente a população trabalhadora num canal de comunicação acessível, confiável e abrangente.

– Oferecer atendimento e suporte psicológico de preferência a distância via teleatendiemento para acolhimento das angústias, medos e receios dos trabalhadores, bem como esclarecimento de dúvidas. Uma dor compartilhada dói menos e o telessuporte psicológico nesse momento faz todo o sentido, podendo até identificar precocemente casos que precisem de atendimento médico para diagnóstico precoce e tratamento.

– Esclarecer para população trabalhadora as mudanças prováveis e aplicáveis dos benefícios e contratos de trabalho indicando claramente a política da organização.

– Prover atendimento médico adequado nos serviços de Medicina do Trabalho e atenção primária priorizando nesse momento os atendimentos de emergência e os voltados para o Covid19, bem como suas repercussões.

– Estimular boas práticas de estilo de vida e investir em ferramentas digitais para seus funcionários.

O sofrimento psíquico diante da nova ameaça da Covid19 é real e legítimo. Além disso, tal sofrimento pode também suscitar outros medos e receios tanto individuais ou familiares, bem como os de relação de trabalho, ora adormecidos, que se somam nesse momento.

É previsto um grande crescimento das doenças mentais no decorrer e após a pandemia do COVID19 com prevalência dos quadros de ansiedade e depressão, além de um possível aumento expressivo no número de suicídios.

As organizações, governos e sociedade precisam identificar todas essas variáveis para melhor gerenciarem ferramentas de controle em atenção primária, saúde ocupacional e saúde mental. É fundamental para esse gerenciamento utilizar toda a inovação e avanços tecnológicos que a pandemia proporcionou. Assim, a tentativa do presente é tomar medidas para “achatar” o pico das doenças mentais previstas para o futuro.

Referências:

1 – PROTOCOLO DE MANEJO CLÍNICO DO CORONAVÍRUS (COVID-19) NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE | Versão 9. Brasília – DF Maio de 2020. Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS). Disponível em: https://www.sbmfc.org.br/wp-content/uploads/2020/05/PROTOCOLO_COVID_APS_MAIO-2020.pdf

 

2 – Minha saúde digital: Recursos de ‘bem-estar’ da comunidade. Disponível em: https://community.mydigitalhealth.org.au/resource-list/

 

3 – Guia Prático ANAMT sobre Covid19 para atuação dos Médicos do Trabalho. Disponível em: https://www.anamt.org.br/portal/wp-content/uploads/2020/04/GUIA_CORONA_VIRUS_2020_v4.pdf

 

4 – NOTA TÉCNICA Nº12/2020-CGMAD/ DAPES/ SAPS/ MS .

RECOMENDAÇÕES À REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL SOBRE ESTRATÉGIAS DE ORGANIZAÇÃO NO CONTEXTO DA INFECÇÃO DA COVID-19 CAUSADA PELO NOVO CORONAVÍRUS (SARS-CoV-2).

 

5 – Understanding and Addressing Sources of Anxiety Among Health Care Professionals During the COVID-19 Pandemic.  Tait Shanafelt, MD; Jonathan Ripp, MD, MPH; Mickey Trockel, MD, PhD. JAMA. Published online April 7, 2020. Doi:10.1001/jama.2020.5893

 

6 – Covid-19: Beyond Tomorrow. Choices for the “New Normal”. Donald M. Berwick, MD, MPP. Jama Published online May 4, 2020. DOI:10.1001/jama.2020.6949

 

7 – COVID 19: Impact of Lock-down on Mental Health and Tips to Overcome

Pavan Hiremath, C S Suhas Kowshik, Maitri Manjunath, Manjunath Shettar. Asian Journal of Psychiatry. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ajp.2020.102088

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