A apneia obstrutiva do sono é caracterizada pela parada da respiração durante o sono e pode estar associada a presença de roncos. Parar de respirar e roncar não é normal!
Durante a interrupção da respiração ocorre diminuição da saturação da oxihemoglobina e microdespertar. O microdespertar é a modificação da atividade elétrica do cérebro, durante alguns segundos, e se caracteriza pelo aumento do tônus muscular e aparecimento no EEG (eletroencefalograma) de ritmos de vigília no período de sono. Os microdespertares provocam a fragmentação do sono, servem para que o paciente volte a respirar e não são recordados no dia seguinte, tornando a apneia obstrutiva do sono uma doença silenciosa para o próprio paciente e ruidosa para o parceiro de cama.
Durante a pausa respiratória ocorre ativação do sistema nervoso autônomo, que juntamente com a redução da oxigenação sanguínea, produção de radicais livres, dentre outros fenômenos, ativa a cascata inflamatória, gerando um desajuste metabólico, tornando a apneia do sono um fator de risco para doenças cardiovasculares. Sabemos que uma boa noite de sono é fundamental para o bom desempenho nas atividades realizadas durante o dia, pois o sono consolida a memória e preserva funções cognitivas, principalmente as executivas.
Quem tem apneia, tem o sono fragmentado e acorda cansado, com a sensação de que a noite de sono não lhe restaurou as energias. Muitos pacientes apresentam sonolência e prejuízo nas atividades diurnas, principalmente aquelas relacionadas ao trabalho. Além desses sintomas, o indivíduo também pode apresentar alteração de concentração e humor. É comum o paciente com apneia se queixar de baixo rendimento laboral e dificuldade para executar suas tarefas. A sonolência além de prejudicar a performance nos afazeres, é um fator importante na ocorrência de acidentes no trabalho e acidentes automobilísticos.
Embora muito importante, sabemos que ainda não é comum o questionamento sobre o sono durante a avaliação médica. É indispensável perguntar-se sobre os hábitos que antecedem o momento de se deitar para dormir, a qualidade do sono, a disposição ao acordar, a ocorrência de ronco e a presença de sonolência diurna.
A polissonografia é o exame indicado para o diagnóstico da apneia, que é classificada em leve, moderada e grave. O tratamento padrão é realizado com aparelho de pressão positiva, o mais comum deles sendo o CPAP (continuous positive airway pressure), e também com aparelhos intraorais que reposicionem a mandíbula anteriormente, reduzindo o estreitamento posterior da via aérea provocado pela língua. Vale ressaltar que alguns pacientes não apresentam sintomas diurnos, e a polissonografia pode ser mais um exame inserido na lista daqueles solicitados na prática clínica. Avaliar o sono e tratar a apneia promove melhora na qualidade de vida, melhora do desempenho físico, intelectual e melhora da produtividade laboral. Além dos benefícios aos trabalhadores, também ocorre redução de custos decorrentes do presenteísmo e daqueles relacionados a outras doenças a que a apneia se associa, como o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral dentre outras.
Karla Carlos
Fisioterapeuta do Setor Neuro-Sono
Disciplina de Neurologia – Escola Paulista de Medicina
Prof. Dr. Gilmar Fernandes do Prado
Chefe do Setor Neuro-Sono
Disciplina de Neurologia – Escola Paulista de Medicina
Presidente da Academia Brasileira de Neurologia – ABN